Há alguns dias, tivemos a oportunidade de viajar à China, a convite
de uma empresa fabricante local de equipamentos para telecomunicações.
O
objetivo foi conhecer diversos sistemas de telecomunicações para
aplicações ferroviárias, nas áreas de transmissão por fibras ópticas e
wireless (sem fio), além de segurança eletrônica e data centers, também
aplicáveis à operação ferroviária.
O ponto alto da visita foi a apresentação dos sistemas em condições
operacionais reais, ou seja, em funcionamento em campo.
Para tal, uma
das visitas que mais nos chamou a atenção foi no Maglev, trem de
levitação magnética.
Este trem encontra-se em operação comercial (o
único no mundo) desde dezembro de 2003, entre a estação Longyan Road
(integrada ao Metrô da cidade) até o aeroporto Pudong (um dos dois
aeroportos internacionais de Shanghai), num percurso de 30 km realizado
totalmente em via elevada.
Foto: Paulo Roberto Filomeno
Estação de Longyan Road em Shanghai
O trem, fornecido aos chineses por um consórcio de empresas alemãs,
desloca-se suspenso através de poderosos campos magnéticos sobre uma
plataforma de concreto de uns 3 m de largura, onde são montados os
eletroímãs que suspendem o trem.
Nas laterais dessa plataforma, ao longo
de toda a via, encontra-se montado o equivalente ao “estator” do motor
linear, enquanto que o “rotor” é montado no trem, fazendo com que o
mesmo possa acelerar até uma velocidade limite no qual a resistência do
ar torne-se a principal força contrária.
Assim, pelo fato de ter forças
contrárias desprezíveis no sentido do deslocamento, este trem atinge
velocidade máxima comercial de inacreditáveis 430 km/h e faz o percurso
de 30 km em apenas 7 minutos, embora possa chegar a bem mais de 500
km/h.
Essa velocidade máxima é atingida em 2 minutos a partir da partida
do trem, mantém-se por apenas 3 minutos e a partir daí desacelera para a
chegada.
Na visita, verificamos que o sistema wireless que recebe e transmite
informações do trem (câmeras de segurança, sinalização, etc.) além de
disponibilizar acesso à Internet aos passageiros através de wi-fi,
estabelece uma comunicação terra-trem a uma taxa máxima de 43 Mb/s, sem
perdas de sinal ao longo da via.
Trata-se de uma boa marca considerando a
velocidade com que o trem se desloca.
Foto: Paulo Roberto Filomeno
O Maglev aproximando-se da plataforma da estação Longyan Road
O Maglev aproximando-se da plataforma da estação Longyan Road
O trem compõe-se de duas classes (um carro “executivo” e dois
“standard”) e a viagem se realiza com baixo nível de ruído.
Porém, nos
chamou a atenção a cabine do operador, totalmente espartana, embora
espaçosa, com um prosaico ventilador doméstico dando um mínimo de
conforto ao operador, um armário comum, um painel de disjuntores e duas
telas no painel.
Como contraponto, a operação do trem parece ser
extremamente automatizada, com pouquíssima interferência do operador.
Embora à primeira vista pareça ser uma excelente opção para grandes
cidades, este trem não parece ser adequado a transporte de massa, uma
vez que seu uso apenas se justifica em percursos semelhantes a este de
Shanghai, para que o mesmo possa desenvolver a velocidade que sua
tecnologia permite.
Isso sem falar no custo de implantação, extremamente
elevado por ser uma tecnologia ainda em desenvolvimento e também no
custo da operação, já que o trem consome fantásticas quantidades de
energia.
Pelo preço da passagem (50 yuans, o equivalente a R$ 18,00),
cremos que, pela quantidade de passageiros que o mesmo leva por viagem,
deva haver forte subsídio governamental para sua operação.
Foto: Paulo Roberto Filomeno
As duas classes do trem: nossa comitiva no carro executivo e o carro standard
As duas classes do trem: nossa comitiva no carro executivo e o carro standard
Mas em matéria de transporte ferroviário, a cidade de Shanghai tem um
sistema metroviário invejável, com 11 linhas, algumas cobrindo longas
distâncias, mais de 60 km.
Além disso, no outro aeroporto internacional
da cidade (Hongqiao) localiza-se a estação ferroviária dos TAV chineses
que partem de Shanghai.
Nesta visita, deu para ver que os chineses não
estão brincando de trenzinho.
No próximo artigo trataremos do sistema
chinês de trens de alta velocidade e com mais detalhes do TAV que liga
Shanghai a Beijing.