Pesquisador diz que a desigualdade social se reflete na dificuldade de deslocamento e agrava o problema nas metrópoles
"Ao mesmo tempo em que essas áreas têm o poder econômico e político,
enfrentam também os maiores problemas metropolitanos", diz ele.
Os
estudos ainda mostram que moradores das periferias ficam mais tempo no
trânsito.
Nas metrópoles, o enorme volume de recursos é distribuído de modo
desigual, o que reflete na enorme desigualdade na distribuição de
benefícios públicos, das ações governamentais, serviços e
infraestrutura.
"A desigualdade também se reflete nas dificuldades de
deslocamento."
Um dado que explicita essa complexidade é a taxa de motorização da
região metropolitana do Rio: são 22,6% de famílias contando com
transporte privado, segundo tabela do Observatório das Metrópoles.
O índice é bem abaixo da média das regiões metropolitanas, de 30,9%.
Assim, o Rio consegue ter o pior trânsito sem ter os maiores índices de
motorização.
Atento aos investimentos que o Rio faz para receber Copa e Olimpíada,
Rodrigues diz ter sérias dúvidas se as obras vão resolver os problemas
de mobilidade.
Segundo ele, o principal problema é que as estratégias
territoriais adotadas são equivocadas.
"No contexto da Copa, a dimensão metropolitana, que tem 20 municípios
e 12 milhões de habitantes, não foi atendida.
E até dentro da cidade do
Rio os investimentos estão localizados em uma região muito específica",
diz ele, referindo-se ao sistema de BRT, sigla para Transporte Rápido
por Ônibus.
O modelo de corredor de ônibus já está em operação na Barra
da Tijuca.
O caso do BRT no Rio é exemplar da distância que ainda existe para
termos outra situação: ao longo das faixas exclusivas, foram construídas
cinco pistas de carro. "Está se investindo em transporte público, mas
não tem a inflexão no modelo", diz Rodrigues.
Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho, do Ipea, explica que os mais
pobres das periferias ainda tem um comportamento de mobilidade restrito.
"É o índice de imobilidade, os mais pobres acabam ficando restritos nos
seus deslocamentos."
De acordo com a Pnad, apenas 11% das pessoas extremamente pobres
recebem vale-transporte. "A classe média que mora na periferia é que
sofre com os maiores tempos de viagem", diz Carvalho.
Em um exercício de imaginação, o engenheiro Luiz Célio Bottura
projeta os benefícios de uma cidade que aboliria os carros. "Uma cidade
fictícia onde os carros sejam proibidos seria mais barata, precisaria de
menos investimentos de obras viárias.
Não precisaria nem de
investimentos no metrô. Certamente até o preço dos imóveis seria mais
baixo."