Chega de construir novas rodovias, pontes e viadutos — só a vida mais compacta e sustentável aliviará o trânsito, diz Elkin Velasquez, diretor da Onu-Habitat
Elkin Velasquez, diretor do escritório regional para América Latina Caribe do Onu Habitat, no Fórum EXAME
São Paulo - Qual a melhor solução para a crise da mobilidade urbana nas
cidades? Não, o alívio não virá da construção de novas rodovias, pontes
e viadutos, iniciativas mais comuns postas em práticas pelos
governantes.
Para Elkin Velasquez, diretor do escritório regional para América
Latina e Caribe do Onu-Habitat, a solução passa menos pelas mãos e
mentes dos engenheiros de transportes e mais pelos planejadores urbanos.
Durante participação no EXAME Fórum
Sustentabilidade, que acontece em São Paulo, nesta terça, o
especialista da ONU apontou o que considera ser a saída para o problema
da mobilidade: cidades sustentáveis compactas, conectadas, integradas e
inclusivas.
"Nos últimos 50 anos, nós desenvolvemos as cidades de maneira estendida
e parcelada, com áreas comerciais, industriais, tudo separado, mas
conectado por rodovias, o que exige deslocamentos mais longos. Isso não é
sustentável nem do ponto de vista econômico, nem social, nem
ambiental", afirmou.
Segundo ele, é preciso encontrar um modelo de expansão sustentável.
"Vamos fazer cidades mais compactas. Compactas, mas organizadas.
Compactas, mas planificadas", explicou.
Cidades compactas e sustentáveis
Mas o que define cidades compactas e sustentáveis? De acordo com o
diretor da ONU, são regiões onde viagens diárias sejam curtas, com foco
no desenvolvimento de áreas adjacentes às cidades existentes.
Uma cidade
que concilia densidade e capacidade de trânsito. Uma cidade que se
debruça sobre um Plano Diretor e áreas TOD (Desenvolvimento Orientado
para o Trânsito).
A criação de densas redes de ruas e trajetos são outra caraterística
importante. "Em geral, as cidades carecem de ruas bem conectadas que
facilitem o fluxo de veículos e de outros meios de transportes", disse.
Na América Latina, onde os bairros se desenvolveram de forma informal,
há uma grande oportunidade para essa mudança.
A cidade integrada, diz o diretor da ONU, estimula o uso misto dos
bairros, o equilíbrio entre moradias e serviços, com provisão de uma
variedade de parques e espaços ao ar livre.
"Aqui o que funciona é a economia local, distribuída em diferentes
bairros, para que os moradores possam encontrar o que querem sem
depender muito do transporte público", sublinhou.
Cidades inclusivas devem ainda desenvolver bairros que estimulem a
caminhada. Encurtar cruzamentos e enfatizar a segurança e conveniência
da caminhada. "Uma cidade não é igualitária quando constrói ruas para
serem ocupadas 80% por único modal", critica Velásquez.
Por fim, a cidade inclusiva implica pensar na maioria e como desenhar a
cidade para priorizar a maioria, de forma a melhorar a qualidade do
espaço público.