USP, ITA e FEI criam programas para suprir o aumento da procura da indústria
por profissionais
Projeto de automóvel demanda de 300 a 400 engenheiros; produção no Brasil
deve crescer 70% até o ano de 2017
Criado há cerca de um ano para estimular a indústria automobilística
nacional, o programa Inovar-Auto acabou impulsionando outro setor: o do ensino
de engenharia voltado para o setor automotivo.
Algumas das principais instituições de ensino elaboram novos cursos de
especialização e ampliam laboratórios.
A iniciativa ocorre na esteira de uma aceleração de até 70% em quatro anos: a
produção de veículos no Brasil deverá pular dos atuais 3,34 milhões para 5,8
milhões em 2017, segundo a Anfavea (associação das montadoras).
A Poli (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) prepara, já para
2014, o mestrado profissional em engenharia automotiva, além do mestrado e do
doutorado acadêmico no mesmo setor.
"Esses dois últimos têm como objetivo formar docentes para que possamos
acelerar o processo de multiplicação de novos profissionais na área", afirma
Marcelo Massarani, professor do departamento de engenharia mecânica da USP.
Há dois meses, o Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) assinou protocolo de
intenções de implantar um centro de pesquisa em segurança veicular, a fim de
preparar seus alunos ao novo perfil científico exigido pela indústria.
Já a FEI (Fundação Educacional Inaciana) está convidando alunos do ensino
médio a visitar seu campus para despertar nos adolescentes o gosto pela
engenharia.
"O ritmo de crescimento projetado para a indústria é maior do que o tempo
necessário para preparar tantos novos engenheiros.
Em algumas áreas, já existe
carência de profissionais, como a de tecnologia", diz Mauro Andreassa, membro do
comitê de educação da SAE (Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade).
O risco de um "apagão" de profissionais no setor foi um dos temas discutidos
no congresso que a entidade promoveu na semana passada, na capital paulista.
Segundo o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), são formados
aproximadamente 40 mil engenheiros por ano no país --ante 650 mil na China.
No Brasil, apenas 18% dos engenheiros especializam-se em mecânica, sendo que
boa parte acaba fisgado pelo mercado financeiro, que costuma oferecer
remuneração mais alta --acima de R$ 5.000.
"A indústria precisa criar outros mecanismos de estímulos, como planos de
carreira mais dinâmicos", acredita Nilton Monteiro, diretor da AEA (associação
de engenheiros automotivos).
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, um possível deficit
obrigaria montadoras e fabricantes de autopeças a recorrerem a seus centros de
desenvolvimento no exterior e a "importar" um número maior de trabalhadores.
Um novo projeto de automóvel demanda entre 300 e 400 engenheiros, enquanto
uma montadora grande como a Ford (cerca de 300 mil carros vendidos por ano no
Brasil) emprega aproximadamente 1.500 projetistas no país.