10 outubro 2013

Arquitetos criticam "perversidade" de São Paulo


São Paulo hoje é uma cidade medonha. Essa é a crítica de três dos mais renomados arquitetos do cenário paulistano que participaram, nesta quinta-feira (10), do Fórum de Mobilidade Urbana promovido pela Folha.

Segundo o arquiteto Marcio Kogan, a especulação imobiliária na cidade é um dos temas que tornam a cidade "assim".

 Ele participou do painel "Políticas de urbanização, o uso do espaço público e os centros das cidades como áreas residenciais" e falou que existem muitas contradições na cidade sobre o assunto. 

Uma delas seria o Elevado Costa e Silva -- o Minhocão --, que para ele representa " uma agressão à cidade". "Deveria ser feito um parque linear no lugar. 

Aquilo tem que ser desativado. É um entrave ao desenvolvimento da cidade", afirmou.

Na mesma linha, a professora da FAU-USP Raquel Rolnik, que também é colunista da Folha, comentou sobre o aumento do IPTU em São Paulo. 

"A discussão não deveria ser sobre IPTU, mas sim sobre como nós deixamos acontecer esse processo de bolha imobiliária na cidade, porque o aumento da taxa é reflexo disso", afirmou. 

Ela também mirou na elaboração de políticas públicas sobre urbanismo. "Zoneamento de lotes privados não deve ser prioridade, nem pontes e viadutos". 

Segundo ela, "devemos nos perguntar sobre como criar um espaço público de qualidade, que privilegie a mobilidade urbana como política prioritária de São Paulo" 

Na análise da arquiteta, a década de 1990 representou a "busca de segurança" na cidade, com o estímulo de construção de condomínios fechados e shoppings. 

"Esse conceito ainda é dominante e é perverso para a cidade, pois reforça a segregação social, desestimula outras formas de mobilidade e reduz as relações da população com o espaço público", analisou. 

Raquel, no entanto, é otimista. "Uma parcela dos paulistanos está disposta a viver de outra maneira", disse. 

Sobre mudanças de conceitos de habitação em São Paulo, ela explicou que ela é possível. 

"Por isso a Folha está promovendo um seminário sobre mobilidade urbana", afirma

FUTURO
 
Para eles, o futuro da mobilidade urbana passa pelos desdobramentos do novo Plano Diretor, de um uso correto do solo e da preocupação com a questão social da habitação.

A questão da densidade urbana é um dos pontos centrais do novo Plano Diretor da cidade - enviado pelo prefeito à Câmara dos Vereadores em setembro - e fundamental para que a mobilidade da capital funcione. "O zoneamento obrigou a locomoção das pessoas", diz Regina Meyer. 

Hoje, porém, essa realidade parece estar mudando de direção. 

"A mudança está na forma como está escrito o plano diretor", complementa a professora da FAU-USP.

"Adensamento não significa verticalização", ressalta Raquel Rolnik, que destacou os benefícios desse processo, mas alertou que precisa ser executado de maneira cuidadosa para não resultar em habitações que não atraem pessoas. 

"Precisa ser o conceito de cidade compacta, de trazer gente para a infraestrutura", diz Regina Meyer. 

HABITAÇÃO SOCIAL
 
Habitar as regiões com infraestrutura, as regiões centrais como pretende fazer o projeto Casa Paulista no centro da cidade, requer uma atenção especial com a questão social. 

"É possível ter áreas heterogêneas do ponto de vista social", destaca Raquel Rolnik, apesar de acreditar que a cidade tenha os subsídios para executar a prática mas não a coragem. 

É o que os especialistas chamaram de convivência interclasse, um conceito cujo objetivo é muito maior do que apenas colocar pobre e rico para viverem juntos, mas fazer com que eles "convivam dentro das mesmas possibilidades que a cidade oferece", como ressaltou a consultora especial da ONU. 

Arquivo INFOTRANSP