Diretores e recrutadores de companhias brasileiras de setores como o
bancário e o aéreo, além de setores industriais, percorrem a Europa em
busca de mão de obra para preencher seu quadro de funcionários no
Brasil.
Só na Espanha, as brasileiras mais que dobraram a absorção de europeus
altamente qualificados em cinco anos, segundo levantamento do Iese
(Instituto de Estudos Superiores de Empresa).
Na semana passada, a escola de economia sediou a primeira feira de
contratação de jovens com MBA exclusivamente de empresas da América
Latina, onde as brasileiras foram maioria.
Itaú, TAM, Gerdau, Votorantim e Gafisa enviaram representantes para
entrevistar cerca de 150 estudantes de MBA em escolas de economia do
país prestes a se formar.
"O crescimento da América Latina levou a uma escassez de talentos, e
agora temos que sair buscando agressivamente", disse à Folha o CEO do
Banco de Crédito, Walter Bayly, que aconselha jovens europeus a
explorarem a América Latina e o Brasil.
Desde que a crise econômica e as recessões na Europa secaram
investimentos no mercado local, as brasileiras vão ao continente atrás
da mão de obra que se sobra nos países europeus e falta no Brasil,
relataram representantes das empresas à Folha.
Espanhois assistem à apresentação da Latam durante feira |
Segundo eles, a escassez não é numérica, mas de perfil: o interesse
dessas empresas nos europeus visa a tornar seus negócios mais globais e,
com isso, expandi-los.
"Queremos um perfil que os brasileiros ainda não têm.
Agora estamos na
Ásia, na América e na Europa e precisamos de expertise para isso, não
adianta pôr um brasileiro lá que não vai funcionar", disse a gerente de
captação de talentos da Votorantim, Camila Miranda. "Por isso fazemos
propostas [com valores] acima do mercado aqui."
ALÉM DOS BANCOS
A empresa, que elevou de 3 para 12 os europeus no programa de trabalho
temporário de verão, ilustra como a indústria tem aderido à contratação
de europeus, antes dominada pelos bancos.
Em 2007, eles eram 80% dos clientes da Gardz, que contrata mão de obra
no exterior para firmas brasileiras. Em 2012, foram 58%. São marcas como
o Itaú, que agora planeja reduzir de 99% para 75% a fatia dos
resultados gerados no Brasil.
O alto índice de desemprego na zona do euro (na Espanha chega a 26%) e o
baixo no Brasil (5,4%) são o principal fator de "expulsão" e "atração"
dessa mão de obra para a América Latina.
Mas a martelada final é a proposta salarial das brasileiras, acima da
média europeia. "Na minha época de MBA, há dez anos, era uma
possibilidade remota [ir para o Brasil]", disse Javier Muñoz, diretor de
carreiras do Iese, uma das principais escolas de economia da Europa.
"Hoje, essas empresas vêm aqui com propostas boas." Vieram do Brasil as
melhores propostas para o engenheiro Enrique Aynart, 29, prestes a
terminar um MBA. Na Espanha, ele disse ter trabalhado em três firmas:
uma faliu, em outra era temporário e na última ele era superqualificado
para a função.
"Minha opção era ficar na Espanha, mas aqui o mercado já é muito maduro.
O Brasil é mais dinâmico e paga melhor", diz o espanhol, entrevistado
pela aérea Latam.
"Queremos complementar a nossa mão de obra", disse Luiz Alberto Franco,
gerente de aquisição de talentos da TAM. "Temos talentos no Brasil, mas
eles também podem ir para mercados diferentes."