Dois dias de discussão em Manaus mostraram o otimismo do setor ambiental e do governo no país para a sustentabilidade da Copa do Mundo de 2014, mas reforçaram a preocupação com o planejamento.
O evento, organizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), trouxe especialistas de países que sediarão Mundiais anteriores para dividir experiências sobre como reduzir o impacto ambiental de megaeventos esportivos como os previstos para o Brasil pelos próximos anos. Mais do que isso - os discursos são de como aproveitar a oportunidade.
O embaixador britânico no Brasil, Alan Charlton, trouxe ao país um pouco sobre os preparativos para as Olimpíadas de Londres no ano que vem. O discurso, comum à maioria dos palestrantes estrangeiros, foi de foco no planejamento de longo prazo - ideal lembrado também pela maioria dos especialistas brasileiros.
O seminário frisou a relevância da Copa do Mundo para o Brasil
- A ideia de sustentabilidade precisa ser pensada no início do planejamento para evitar os chamados elefantes brancos. Nós queremos um legado, e por isso é necessário pensar em tudo: no solo, na água, no transporte, tudo isso é muito importante. Eu acho que de forma geral, o planejamento e a construção nesses megaeventos esportivos dão um exemplo para o futuro. Como vai o mundo planejar nos próximos 20 anos de forma sustentável?
O embaixador sul-coreano Bak-Hyung Lee - que participou da organização da Copa de 2002 - reforçou a importância do voluntariado. Já o conselheiro da Cidade do Cabo, na África do Sul, Brett Herron, lembrou do legado físico de parques e transporte público que ficaram para o país após o Mundial do ano passado.
Um dos mais otimistas sobre os efeitos positivos de um grande evento esportivo no país era, no entanto, o espanhol Pablo Vaggione. Mestre em Desenvolvimento Urbano, ele mostrou as melhorias ocorridas em Barcelona após as Olimpíadas de 1992, e disse que o Brasil também poderia se beneficiar com a credibilidade na realização de um grande evento, da transformação urbana e do despertar para a atenção sobre o planejamento urbano.
Novas críticas à mobilidade
Nem todos possuem uma visão tão positiva assim, no entanto. Consultor do BID e com mais de 40 anos de experiência no setor de planejamento de transportes, Paulo Sérgio Custódio criticou a maioria das obras de mobilidade urbanas previstas para o Mundial. Entre os exemplos negativos, ele cita a decisão de Cuiabá de mudar recentemente de corredores exclusivos de ônibus para um veículo leve sobre trilhos ("decisão inconsequente") e as obras em Porto Alegre ("simplesmente gastando dinheiro para deixar tudo como está").
Já entre os pontos positivos, Custódio cita as ações no Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
- Há um espírito não de investir, mas de gastar dinheiro. Isso envolve pressão de grandes construtoras, interesses políticos vários e até mesmo corrupção. Todas essas coisas influem nas decisões.
Para o especialista, mesmo quando o planejamento é feito, ele não é respeitado como o necessário, principalmente devido a pressões.
- Existem poucas ações de planejamento, e as poucas ações de planejamento muitas vezes elas não são seguidas. Os dois fatores principais para isso são os interesses políticos e econômicos. Nós sabemos o que está por trás dos grandes contratos. Acontece que as grandes empresas têm interesses em grandes projetos, então eles se posicionam para pressionar os governos, financiar campanhas e conseguir as obras que nem sempre são as mais úteis, mas são as que dão mais dinheiro.
Custódio concorda com o discurso oficial recentemente adotado de que as obras de mobilidade não são fundamentais para a realização do Mundial, e sim como legado, mas vê com preocupação a possibilidade de um abandono dos esforços em se completar as obras até a realização dos jogos.
- Para os jogos, você não precisa dessas obras. Um jogo Palmeiras x Corinthians tem a demanda de um jogo da Copa. Se realmente for feriado no dia dos jogos, você pode resolver com ônibus. Agora, vai haver uma quantidade significativa de turistas, tanto brasileiros como de fora, e você precisa de uma certa maneira melhorar para mostrar uma cidade, não estádios. Nesse sentido, nós precisamos das obras para mostrar nossas cidades.
Economia verde
Críticas à parte, na maioria dos discursos a redução do impacto ambiental de um grande evento como a Copa foi dada quase que como certa pela maioria dos palestrantes. Coordenador da Câmara Temática Nacional de Meio Ambiente e Sustentabilidade - que reúne o governo federal e representantes estaduais e municipais das cidades-sede - Claúdio Langone lembrou que os licenciamentos ambientais não foram problema para as obras do Mundial. Segundo ele, uma atuação preventiva foi suficiente para equacionar um dos maiores gargalos atuais de infraestrutura no país.
- O licenciamento ambiental nada mais é do que a aferição de que o cumprimento de um mínimo de requisitos legais para a obra está sendo feito. Então, a primeira atividade da câmara foi estabelecer mecanismos de padronização, fila diferenciada para esses projetos e estabelecer grupos técnicos de acompanhamento que pudessem identificar previamente os potenciais conflitos e permitir que a gente pudesse trabalhar com antecipação.
Langone lembra que todos os estádios em construção já incorporaram medidas mínimas de compensação do impacto ambiental e, em alguns casos, até buscam certificados especiais de atenção à sustentabilidade.
- Há um espírito não de investir, mas de gastar dinheiro. Isso envolve pressão de grandes construtoras, interesses políticos vários e até mesmo corrupção. Todas essas coisas influem nas decisões.
Para o especialista, mesmo quando o planejamento é feito, ele não é respeitado como o necessário, principalmente devido a pressões.
- Existem poucas ações de planejamento, e as poucas ações de planejamento muitas vezes elas não são seguidas. Os dois fatores principais para isso são os interesses políticos e econômicos. Nós sabemos o que está por trás dos grandes contratos. Acontece que as grandes empresas têm interesses em grandes projetos, então eles se posicionam para pressionar os governos, financiar campanhas e conseguir as obras que nem sempre são as mais úteis, mas são as que dão mais dinheiro.
Custódio concorda com o discurso oficial recentemente adotado de que as obras de mobilidade não são fundamentais para a realização do Mundial, e sim como legado, mas vê com preocupação a possibilidade de um abandono dos esforços em se completar as obras até a realização dos jogos.
- Para os jogos, você não precisa dessas obras. Um jogo Palmeiras x Corinthians tem a demanda de um jogo da Copa. Se realmente for feriado no dia dos jogos, você pode resolver com ônibus. Agora, vai haver uma quantidade significativa de turistas, tanto brasileiros como de fora, e você precisa de uma certa maneira melhorar para mostrar uma cidade, não estádios. Nesse sentido, nós precisamos das obras para mostrar nossas cidades.
Economia verde
Críticas à parte, na maioria dos discursos a redução do impacto ambiental de um grande evento como a Copa foi dada quase que como certa pela maioria dos palestrantes. Coordenador da Câmara Temática Nacional de Meio Ambiente e Sustentabilidade - que reúne o governo federal e representantes estaduais e municipais das cidades-sede - Claúdio Langone lembrou que os licenciamentos ambientais não foram problema para as obras do Mundial. Segundo ele, uma atuação preventiva foi suficiente para equacionar um dos maiores gargalos atuais de infraestrutura no país.
- O licenciamento ambiental nada mais é do que a aferição de que o cumprimento de um mínimo de requisitos legais para a obra está sendo feito. Então, a primeira atividade da câmara foi estabelecer mecanismos de padronização, fila diferenciada para esses projetos e estabelecer grupos técnicos de acompanhamento que pudessem identificar previamente os potenciais conflitos e permitir que a gente pudesse trabalhar com antecipação.
Langone lembra que todos os estádios em construção já incorporaram medidas mínimas de compensação do impacto ambiental e, em alguns casos, até buscam certificados especiais de atenção à sustentabilidade.
Quanto às obras de mobilidade urbana, principais alvos de críticas nos termos do planejamento, ele afirma que serão possíveis medidas ambientais durante a fase operacional dos novos meios de transporte.
- A definição das obras prioritárias na Matriz de Responsabilidade para mobilidade e circulação teve um limitante objetivo que foi um limitante temporal. Algumas obras que tradicionalmente seriam incluídas, que são de longo prazo, não foram incluídas. Mas, em geral, nos pacotes de obras estão incluídos corredores de ônibus, BRTs, VLTs, enfim, e ainda não há uma discussão sobre, principalmente no caso dos ônibus, do tipo de combustível que a gente vai usar.
- A definição das obras prioritárias na Matriz de Responsabilidade para mobilidade e circulação teve um limitante objetivo que foi um limitante temporal. Algumas obras que tradicionalmente seriam incluídas, que são de longo prazo, não foram incluídas. Mas, em geral, nos pacotes de obras estão incluídos corredores de ônibus, BRTs, VLTs, enfim, e ainda não há uma discussão sobre, principalmente no caso dos ônibus, do tipo de combustível que a gente vai usar.
A solução dos conflitos ambientais pode dar margem às oportunidades de negócios na área. Entre as áreas que podem ser diretamente beneficiadas pelos negócios da chamada economia verde (que combina desenvolvimento sustentável com inclusão social) estão a agricultura de alimentos orgânicos, que cresce no país e no mundo, a pesca, manejo de água e o turismo. Às vésperas de um dos maiores eventos mundiais sobre o tema, a Rio + 20, a representante do PNUMA no Brasil vê com bons olhos os preparativos para o Mundial. Para Denise Hamu, os trabalhos feitos no setor até agora têm mostrado uma boa - e necessária - integração da área ambiental com os demais setores da sociedade.
- A área de sustentabilidade está fazendo o seu dever de casa. Dentro do conceito de economia verde, nós estamos vendo que a Copa e a organização está bastante alinhada com esses diálogos que precisam acontecer. O que a gente via no passado era a área ambiental entricheirada, sem falar com a economia. Antes nós tínhamos o ambiente pelo meio ambiente, agora é o meio ambiente com a sociedade produtiva.