Publicada em 16/10/2010
Bruno Rosa
Porém, o custo poderia ser bem menor não fosse o excesso de congestionamento que, cada vez mais, os cariocas vêm enfrentamento. Hoje, a velocidade média dos veículos é de 30 quilômetros por hora (km/h). Caso o tráfego fluísse em média a 50 km/h, velocidade tida como ideal pelos especialistas, os prejuízos anuais seriam reduzidos a R$ 5,529 bilhões por ano. Isso acontece porque quanto maior o trânsito, mais elevados são os custos para os motoristas e as emissões de gases poluentes.
Se um motorista, que leva uma hora para chegar ao trabalho andando a 30 km/h - e outros 60 minutos para chegar em casa trafegando na mesma velocidade -, conseguisse aumentar sua velocidade para os ideais 50 km/h, ele ganharia 48 minutos por dia, segundo cálculos do economista Gilberto Braga, professor do Ibmec-RJ. Dessa forma, o carioca economizaria 17,6 horas por mês no trânsito ou 8,8 dias do ano perdidos no congestionamento.
- Determinar a velocidade é importante para calcular as perdas de uma frota velha. Os carros entre 15 e 35 anos, que somam 845 mil automóveis no Rio, além de terem baixa eficiência energética, poluindo mais, são os maiores causadores de acidentes. Também andam mais devagar em relação aos novos. E, em um engarrafamento, são os que mais consomem combustível, emitindo até três vezes mais gases poluentes - detalha Mac Dowell.
" Os carros entre 15 e 35 anos, que somam 845 mil automóveis no Rio, além de terem baixa eficiência energética, poluindo mais, são os maiores causadores de acidentes. Também andam mais devagar em relação aos novos - Fernando Mac Dowell "
Para chegar aos números, o especialista levou em conta, entre outras variáveis, o ano de fabricação do carro, o consumo de combustível, os custos para a manutenção de peças e mão-de-obra, a depreciação do valor do automóvel e a velocidade média do tráfego. Dos R$ 9,2 bi, R$ 304,5 milhões se referem ao meio ambiente, como a emissão de poluentes, e ao total de internações e de acidentes.
O problema se agrava mais no Rio, já que a idade média da frota é de 12,5 anos - acima da cidade de São Paulo (8,5 anos) e da média nacional (10 anos), segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A isso se soma a falta de manutenção. Segundo o Grupo de Manutenção Automotiva, só 39% dos carros com mais de 20 anos fazem visitas preventivas, contra 65% dos modelos com até dois anos e 47% entre os de dez anos.
- Se fossem retirados das ruas os carros com fabricação acima de 15 anos, a idade média da frota no Rio cairia para 7,5 anos. Esse número seria bom. Hoje, a frota de ônibus tem idade média de sete anos. Ao retirar os modelos mais velhos, a velocidade média aumentaria. Ao mesmo tempo, é preciso investir em outros meios, como barcas e trens, e não reduzir a capacidade do metrô. A prefeitura tem de começar a instalar sinais inteligentes. São medidas que melhoram o cenário - recomenda Mac Dowell.
Enquanto o investimento não vem, o cenário é desanimador: 35% dos carros do Rio ficam no engarrafamento. Mac Dowell lembra que, com o aumento dos veículos em circulação na Avenida Brasil entre 2003 e 2009, as horas de congestionamento anual subiram 180%, de 692 para 1.939. Ou seja, já consomem 52 dias no ano.
Em SP, despesa com saúde chega a R$ 1,5 bi
- Na Europa, a carga tributária para manter um carro antigo é maior. Por isso, há um estímulo à renovação. No Brasil, isso não acontece, pois cada estado tem sua legislação, além dos impostos, que respondem por 34% na hora de comprar um carro novo - ressalta Belini.
No Rio de Janeiro, por exemplo, carros com mais de 15 anos não pagam IPVA. Para especialistas, isso estimula o tráfego de carros velhos. Por outro lado, a secretaria estadual de Fazenda diz que, como o imposto é calculado com base no valor do automóvel, não compensaria criar uma estrutura de cobrança para os modelos mais antigos. Paulo Saldiva, professor e coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), diz que renovar a frota é a melhor solução hoje, mas está longe do ideal:
- O melhor caminho seria criar um sistema de transporte público integrado ao individual. A integração só não acontece por falta de gestão.
Um dos motivos que fazem o gerente Fernando Vasconcellos, de 53 anos, não se desfazer do seu Santana 2.0, de 1989, é não pagar mais IPVA. Apesar de saber que o carro polui mais que os novos, procura mantê-lo em bom estado. No ano passado, gastou R$ 5 mil em uma reforma:
- Recorro ao mecânico a cada três meses, gastando em média R$ 100. O brasileiro ama carro antigo, até porque o governo incentiva. Se tivesse de pagar IPVA, já teria me desfeito do veículo.
Leila Droprinchinski Martins, professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, ressalta que a questão ambiental deveria ganhar mais atenção do governo e do consumidor:
- Seria interessante saber, na hora da compra, o volume de emissão de gases do carro, que funcionaria como um critério de compra. O Ibama até criou a Nota Verde, que avalia as emissões, mas deveria ser aprimorada.
Em São Paulo, os dados são devastadores. Segundo Saldiva, da USP, o custo, com internações e acidentes na Região Metropolitana, é de no mínimo R$ 1,5 bilhão por ano. Segundo especialistas, a poluição não é vista como doença pública, apesar de matar quatro mil pessoas por ano na capital paulista, número maior que as vítimas fatais de Aids e Tuberculose, mil e 500, respectivamente. Os problemas oriundos da poluição não são resolvidos com reflorestamento. Leila Martins lembra que elementos emitidos pelos veículos não são absorvidos pelas plantas.
" O problema é que o Brasil não conta com um limite máximo de material particulado (MP) permitido na atmosfera. Deveria haver ainda uma revisão na concentração de ozônio - Leila Martins "
O pneumologista Henry Sznejder, gerente de Planejamento e Informações Médicas da Unimed-Rio, lembra que, como reflexo de uma frota mais velha, pode haver maior incidência de bronquite e asma, além do agravamento de doenças obstrutivas das vias respiratórias:
- Outro agravante são os períodos de baixa umidade do ar, que potencializa os efeitos.
http://oglobo.globo.com/economia/mat/2010/10/16/frota-de-veiculos-custa-9-2-bi-8-dias-perdidos-no-transito-do-rio-por-ano-922804576.asp