16 outubro 2010

Um conselho de Londres para o Rio de Janeiro: cuidado com os gastos públicos dos Jogos Olímpicos

 Chefe da autoridade pública olímpica para os jogos de 2012 faz alerta aos gestores públicos brasileiros em seminário no Palácio da Cidade, no Rio

Rafael Lemos, do Rio de Janeiro

Vista aérea do Estádio Olímpico de Londres: gastos com os jogos de 2012 foram multiplicados (Divulgação)
O orçamento inicial em Londres era de 3,8 bilhões de dólares. Reajustes e ampliações elevaram a conta para 14,9 bilhões de dólares. No Rio, até o momento, a previsão de gastos é de 28 bilhões de reais – ou cerca de 17 bilhões de dólares
Se não quiserem ter sérios problemas com as contas públicas, os governos federal, estadual e municipal do Rio devem, desde já, manter rígido controle sobre os gastos dos Jogos Olímpicos de 2016. O conselho pode parecer óbvio, mas vindo dos organizadores da competição de 2012, em Londres, é bom levar em conta a recomendação. O chefe-executivo da Olympic Delivery Authority (ODA), a autoridade pública olímpica dos ingleses, David Higgins, alertou os colegas brasileiros durante o seminário As Olimpíadas e a Cidade: Conexão Rio-Londres”, no Palácio da Cidade, em Botafogo, zona sul do Rio, na manhã desta quinta-feira.

“A maior preocupação é não se complicar com as contas públicas. Vocês têm três esferas de governo aqui: municipal, estadual e federal. Todas injetando diferentes quantias e todas tomando decisões. Para obter sucesso, é preciso definir as responsabilidades de cada esfera, e tomar decisões simples como quem paga pelo quê”, alertou Higgins, com a autoridade de quem viu as cifras dos próximos jogos olímpicos serem multiplicadas à medida que a candidatura de Londres passou do papel para o canteiro de obras.

O orçamento inicial da London 2012 era de 3,8 bilhões de dólares. Reajustes, ampliações, revisões do conceito de algumas arenas olímpicas e de obras de infraestrutura elevaram a conta para 14,9 bilhões de dólares, dos quais 9,6 bilhões exclusivamente saídos dos cofres públicos. No Rio, até o momento, a previsão de gastos é de 28 bilhões de reais – ou cerca de 17 bilhões de dólares.

Higgins destaca que é essencial a criação de um Plano Diretor, com as diretrizes que vão guiar os investimentos e a divisão das responsabilidades entre as autoridades envolvidas. O documento elaborado pelos ingleses tinha 10 mil páginas, dividas em 15 volumes. O equivalente carioca, intitulado “Pacote Olímpico”, é mais modesto. Trata-se de um conjunto de três projetos de lei, que prevê incentivos fiscais, modificações urbanísticas para construção de hotéis em determinadas áreas da cidade e uma medida que permite a ampliação do Sambódromo. O pacote deve ser votado pela Câmara dos Vereadores na próxima terça-feira.

Apesar de viverem realidades bastante diferentes, Rio de Janeiro e Londres colecionam similaridades quando o assunto é Olimpíada. Desde a campanha para sediar os Jogos, as autoridades brasileiras usaram a metrópole inglesa como referência. As duas cidades-sede contam, por exemplo, com o mesmo responsável pela comunicação, o inglês Mike Lee. O modelo de governança também foi copiado dos londrinos, com a criação da Autoridade Pública Olímpica (APO) inspirada na ODA.

As duas cidades também compartilham problemas comuns às metrópoles de todo o planeta, como o trânsito caótico. “As questões das nossas cidades são muito diferentes, mas os desafios são os mesmos. Londres é uma cidade medieval e tem ruas muito estreitas. Sair do leste para o oeste de Londres na hora do rush é tão difícil quanto cruzar o Rio ou São Paulo”, compara Higgins.

A solução encontrada para interligar os dois lados da capital inglesa foi a criação de uma nova linha de metrô, a East London Line. As Olimpíadas foram fundamentais para garantir a verba necessária e tirar o projeto do papel.