SMTU ainda não esclareceu como vai fazer a transição entre os dois sistemas sem bloquear mais de R$ 21 milhões em créditos
Manaus, 14 de Maio de 2011SMTU ainda não esclareceu se o Sinetram continuará gerenciando a bilhetagem eletrônica até o fim da licitação
Lançada antes da aprovação, pela Câmara Municipal de Manaus (CMM), do Projeto de Lei nº 028/2011, que institui o Sistema Integrado de Gestão Inteligente do Transporte (Sigit), a licitação da bilhetagem eletrônica pode tornar, temporariamente, inválidos mais de R$ 21 milhões em créditos nos cartões Passa Fácil Estudantil, Cidadão e Vale Transporte (VT).
Esse é o valor comprado mensalmente por aproximadamente 1,4 milhão de usuários de ônibus em Manaus, segundo dados apurados por A CRÍTICA.
A abertura dos envelopes com as propostas dos concorrentes na licitação deve ocorrer às 9h do dia 15 de junho.
Mas, há um mês da data prevista, a Superintendência Municipal de Transportes Urbanos (SMTU) ainda não esclareceu como será feita a transição dos dados entre o sistema atual - gerenciado pelo Sindicato das Empresas de Transporte de passageiros de Manaus (Sinetram), com tecnologia da empresa Dataprom - e o Sigit, sem prejuízo aos usuários.
Questionado pela reportagem, o órgão respondeu apenas que iria se pronunciar a respeito “oportunamente”.
Como a licitação deve implicar na mudança da tecnologia adotada no gerenciamento da bilhetagem eletrônica e a consequente substituição dos quase 1,5 mil validadores implantados nos ônibus e terminais e dos 1,4 milhão de cartões, a transição entre os dois sistemas já preocupa usuários do serviço, que temem não conseguir usar seus créditos.
Uma dessas pessoas é a estudante Dayseane Fernandes, 18, que usa o cartão Passa Fácil estudantil quatro vezes por dia para ir de casa, no Manôa, Zona Norte, até o trabalho, no Centro, Zona Sul, e a escola, no conjunto Renato Souza Pinto, Cidade Nova 1, também Zona Norte.
“Todos os meses eu compro R$ 50 em créditos, sempre de uma vez, com um dinheiro que já deixo separado para isso. Se mudar o sistema e o dinheiro ficar preso, vai apertar o orçamento. Vou ter que deixar de pagar alguma conta para pagar o ônibus”, reclamou.
A vendedora Daniela Soares, 25, criticou a falta de transparência no processo de transição entre os sistemas de bilhetagem e a demora da prefeitura em orientar os usuários.
“A prefeitura não informa nada, então a gente, que depende do ônibus e tem dinheiro contado para o crédito, fica preocupado. O jeito é pagar a passagem no dinheiro”.
O desafio que a SMTU precisa superar para implantar o Sigit é o mesmo em que esbarraram outras cidades brasileiras quando mudaram o gerenciamento da bilhetagem em meio a um contrato vigente: as diferentes codificações dos softwares.
O resultado foi o “aprisionamento” de milhões de reais em créditos, já que os cartões utilizados pelos usuários não eram mais reconhecidos pelos novos validadores, apesar de ainda possuírem créditos.
Tempo escasso
Outro obstáculo para a transição é o tempo para a emissão dos cartões e implantação dos validadores. A CRÍTICA apurou que o Sinetram levou oito meses para emitir os cartões Passa Fácil e 14 meses para implantar a bilhetagem eletrônica. A SMTU tem dois meses até o início da operação das “novas” empresas.
Contrato ignorado
A licitação do Sigit foi lançada em meio a um contrato vigente com a Transmanaus e o gerenciamento do sistema de bilhetagem pelo Sinetram, que tem contrato com a empresa Dataprom - que elaborou o software - vigente até outubro de 2012.
O que não foi esclarecido pela SMTU é se o Sinetram, sindicato que representa as empresas que atuavam antes da licitação, vai continuar gerenciando a bilhetagem eletrônica até o fim da licitação, mesmo com a “troca” das empresas, prevista para junho.
CPI fiscalizadora
Para o vereador da base de oposição Waldemir José (PT), uma CPI seria a única forma, atualmente, de fiscalizar tais mudanças no transporte público, diante da falta de transparência da prefeitura.
“Só por meio da CPI vamos ter, finalmente, acesso às informações que deram origem à nova tarifa, às mudanças na bilhetagem e à própria contratação das empresas de ônibus e que, há meses, vem sendo negadas pela SMTU. Assim, nos impedem de fiscalizar”, salienta.
Ele chama a atenção para o fato de que foi anunciada a criação de uma comissão, que segundo ele, ““até hoje não passou de promessa. Enquanto isso, a população é lesada pelos abusos.”
Alguns números
Um total de 1,4 mi de cartões Passa Fácil estão ativos, atualmente, segundo dados apurados por A CRÍTICA. A maioria, aproximadamente 800 mil, são de Vale Transporte (VT). Os cartões estudantis somam algo em torno de 320 mil exemplares e o restante das unidades válidas é de cartões Cidadão.
Em torno de R$ 21 mi em créditos são comprados todos os meses pelos usuários dos cartões Passa Fácil em Manaus, em média, segundo fontes de A CRÍTICA.
No entanto, nem todos esses créditos são utilizados durante o mês, permanecendo disponíveis nos cartões e gerando um fundo. Na maioria dos casos, isso ocorre com os VT.
Aproximadamente 750 mil créditos são utilizados todos os dias por usuários do transporte público da capital, segundo informações divulgadas em diferentes ocasiões pelo Sinetram. Os cartões também são utilizados mais de 130 mil vezes por dia por usuários que fazem a integração temporal