Projeto comunitário quer mostrar a cultura e a vida solidária entre os moradores pobres da cidade
Comunidade a 2km do Castelão quer ser visitada pelos turistas da Copa
Simone Sousa - Fortaleza
postado em 08/10/2010
Um ousado projeto de turismo comunitário quer fazer com que a periferia de Fortaleza, e não somente a área nobre da cidade, seja incluída no roteiro turístico da capital cearense durante a Copa do Mundo de 2014. O projeto, uma iniciativa do Instituto Palmas, vai convidar os visitantes do Mundial a conhecerem também este outro lado da cidade, numa perspectiva de desenvolvimento turístico integrado, socioambientalmente sustentável e solidário.
O ponto alto do roteiro de visitas será o Conjunto Palmeira, uma favela com 30 mil habitantes, situada na região sul de Fortaleza, a somente dois quilômetros do estádio Castelão. O que há de incrível nesta comunidade - fato que a tornou bem conhecida - é sua independência econômica, que implica o uso de moeda própria, baseada na economia solidária ali praticada. Tudo começou na década de 1970, quando a população do conjunto fundou o Banco Palmas, que acabou tornando o bairro destaque entre os demais da periferia.
Em 2003, o banco comunitário foi formalizado como Instituto Palmas, e passou a receber apoio de empresas internacionais e nacionais como o Instituto Walmart, Avon, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco do Nordeste. “A moeda Palma tem o objetivo de trazer o desenvolvimento para o próprio bairro e garantir a superação da pobreza urbana do local”, afirma Joaquim de Melo, coordenador do Instituto Palmas.
Turismo comunitário
Entre os muitos projetos do Fórum Socioeconômico Local do Conjunto Palmeira (Fecol), existe um em especial, voltado para a Copa de 2014. É o projeto intitulado “1.000 jovens, 10 ideias para incluir meu bairro na Copa de 2014”. Criado pelos jovens da comunidade, foi encaminhado à Prefeitura e ao Comitê da Copa em Fortaleza.
Entre as propostas está a criação de um plano de segurança para o bairro durante o período da Copa. Além disso, propõe a criação da Escola de Preparação da Copa, com vários cursos profissionalizantes, a criação do museu vivo do futebol no Conjunto Palmeira, um corredor gastronômico com comidas regionais e artesanato, traslados para facilitar a visitação. A ideia é difundir a diversidade cultural da periferia, colocando o Conjunto Palmeiras no mapa turístico de Fortaleza. Outras sugestões são a formação de guias turísticos para a Copa. Eles serão preparados para contar a história do bairro, suas lutas e a dinâmica de participação comunitária.
“Nossa localização é bem privilegiada, pois estamos bem perto do Castelão. A prefeitura e o governo deveriam investir em projetos de mobilidade urbana e roteiros turísticos voltados para a parte de trás do estádio, e não somente para a frente”, diz Joaquim de Melo, coordenador do Instituto Palmas. Ele se refere aos projetos de mobilidade urbana e roteiros turísticos divulgados até agora, todos voltados para a área nobre da cidade. A periferia fica sempre em segundo lugar, critica Melo e reforça: “Não queremos ser vistos como o lado perigoso da cidade”. Por enquanto, o tema levantado pelo Instituto Palmas está sendo discutido internamente pela coordenação do Projeto da Copa 2014 da Prefeitura de Fortaleza.
Centro de Referência
“Queremos que a Copa de 2014 não seja uma oportunidade apenas para grandes empresas", destacou o coordenador do Instituto Palmas. Para não ficar nas palavras, o bairro já organizou a pousada comunitária Palmatur, que será ampliada antes de o Mundial começar.
Também está sendo planejada uma futura parceria com a cooperativa de táxi do aeroporto de Fortaleza, para que durante a Copa do Mundo a moeda Palma circule entre os taxistas, como já vem acontecendo em alguns transportes públicos alternativos de Fortaleza, que já aceitam a moeda pelo valor da passagem.